Nuno Lopes São Jorge
E essa coisa é a troika e a austeridade. Há um lado metafórico, pois a Europa foi uma cobradora de dívidas a Portugal. Com cobranças difíceis... Tal como nas cobranças difíceis feitas em Portugal. Há uma ameaça constante e cobra-se por intimidação. Como é que Marco Martins explicou o que queria com este filme? O filme surgiu da vontade de trabalharmos juntos e foi discutido desde o início a dois. Fiz parte de todo o processo de criação. Não houve nenhum momento em que ele tivesse de explicar. Sabíamos os dois mais ou menos o que queríamos fazer. Na preparação do personagem ganhou 20 quilos. Suponho que não se pode dizer que tenha engordado... Não. Aliás, a contabilidade dos 20 quilos é assim: perdi dez quilos de banha para ganhar dez quilos de músculo. Já conseguiu retirar o Jorge do seu corpo? Felizmente, já. Mais ou menos... A parte boa é que estava em forma. Não me dou muito bem com ginásios. Pelo menos, tantas horas por dia. Não é a primeira vez que interpreta alguém capaz de ser violento.
Nuno lopes são jorge martinez
Um pugilista desempregado arranja trabalho numa empresa de cobranças difíceis, das raras a ter sucesso no período mais duro da austeridade. Um filme português imprescindível.
Há um lado documental do que era viver em Portugal nessa época. Diria que é o filme que mais o marcou até hoje? Sim. Pelo lado de construção. Marcaram-me muitos filmes, pois felizmente tenho tido a sorte de trabalhar com grandes realizadores. Mas 'São Jorge' é, acima de tudo, o filme que é mais meu. É um filme nosso, que construímos em conjunto. Já disse que tem os pés bem assentes no chão. Mas tem orgulho em ver o seu trabalho reconhecido? Ainda nem acredito naquilo que me aconteceu. Nem nos melhores sonhos pensava que um dia iria ganhar um prémio num dos grandes festivais de cinema do Mundo. O prémio poderá ser uma lança de 'São Jorge' para combater a apatia das pessoas e levá-las a ir ver o filme quando estrear? Gostaria muito que sim. E é o mais importante. A voz destas pessoas merece ser ouvida e gostava muito de contribuir para que acabe este estigma de que o cinema de autor português não deve ser visto. Há filmes de autor – e penso que o 'São Jorge' é um desses – que podem ser compreendidos e podem entusiasmar qualquer pessoa.
Este Jorge é um negativo do Telmo de 'Sangue do Meu Sangue'? No sentido em que também é forte, está rodeado de violência, e vive num bairro difícil. Na personalidade são totalmente opostos. O Jorge não tem um pingo de maldade. E o Telmo era quase diabólico. Já tinha ido ao bairro da Bela Vista ou ao bairro da Jamaica antes de começar a preparar este filme? Só tinha ouvido falar. Fizemos uma grande pesquisa em vários bairros sociais da zona de Lisboa – entra também o Portugal Novo, numa cena pequena... – e escolhemos os que nos interessavam mais, pelas pessoas e por funcionarem melhor cinematograficamente. O que se pode aprender nesses bairros? Acima de tudo, trata-se de um mundo que nós, burgueses de classe média, a viver principescamente em comparação com estas pessoas, desconhecemos. Quando eu digo que o bairro da Jamaica, que são três edifícios inacabados, fica a 20 minutos do centro de Lisboa ninguém acredita. E há coisas surpreendentes: as pessoas recebem apoio social por terem vários filhos, e se vão trabalhar pelo salário mínimo fazem-no por apenas mais cinco euros.
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Distinguido no Festival de Veneza como melhor ator da secção 'Horizontes', graças a um pugilista que começa a fazer cobranças difíceis para sobreviver, Nuno Lopes diz que 'São Jorge', realizado por Marco Martins e com estreia marcada para 3 de novembro, é o retrato daquilo que a austeridade fez aos portugueses. Se um alto funcionário da troika visse o 'São Jorge' passaria a acreditar que os portugueses são seres humanos e não apenas números numa folha de Excel? Custa-me a acreditar. São totalmente desfasados da realidade. Como os nossos políticos. Quando estava a preparar o filme, no bairro da Bela Vista, com pessoas sem nada, ouvia políticos dizer que estávamos a viver acima das nossas possibilidades. Mostrar é fundamental. Se querem ver, isso é outra questão. O dragão da austeridade de que falou em Veneza, ao receber o prémio, é quase um personagem do filme? Há uma tragédia que paira, algo que impede o Jorge de triunfar. Vê-se que tenta o melhor que sabe, mas uma coisa maior do que ele impede-o de ter sucesso.
MAIS UM PASSO NUMA GRANDE CARREIRA 'São Jorge', história de um pugilista que faz cobranças difíceis para fugir à pobreza e evitar que a ex-mulher (Mariana Nunes) vá para o Brasil com o filho de ambos (David Semedo), é o mais recente filme de Nuno Lopes, que aos 38 anos é um dos maiores atores do cinema nacional. Nos últimos anos foi o colono de 'Posto Avançado do Progresso' (2016), o marido desavindo de 'Cadências Obstinadas' (2013) e o sargento que enfrenta as invasões napoleónicas de 'As Linhas de Wellington' (2012). Em 'Alice' (2005), também realizado pelo amigo Marco Martins, era um pai atormentado pelo desaparecimento da filha.