Senhor Dos Aneis Gulbenkian / O Senhor Dos Anéis: As Duas Torres – Gulbenkian Música
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Para alcançar esse ambiente específico, o compositor juntaria dois mundos musicais que lhe emprestavam duas características basilares: o potencial épico e sinfónico trabalhado com a New Zealand Symphony Orchestra e o deslumbrante exotismo ancestral e intemporal conseguido pela gravação de um coro maori de 60 elementos. Daí que, apesar de respeitar uma forma menos convencional, Howard Shore afirme que a sua partitura para a trilogia é, afinal, "uma partitura de ópera". O que facilmente se compreende pela necessidade de integrar o derradeiro tom de estranheza que empurra os filmes para terras sulcadas no reino do fantástico: a diversidade de línguas ininteligíveis detalhadas por Tolkien e usadas nos temas cantados. "Poder-se-ia dizer que toda a música para cinema é ópera, mas alguma é muito mais ópera do que outra quando de facto se cria obras operáticas baseadas no conceito do guião e se usa música vocal sob formas muito específicas", disse o compositor à Soundtrack Magazine. Não por acaso, aliás, Shore reconhece a influência do leitmotif de Wagner sobre as suas opções e a composição de temas ilustrativos (cerca de 50) não apenas de lugares, mas também de personagens e de relações entre elas, que muito devem na sua forma recorrente a O Anel do Nibelungo (Tolkien, confrontado com essa hipótese, frisou que as semelhanças com Wagner se resumiam a um objeto circular chamado anel).
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Projeção do filme de Peter Jackson, A Irmandade do Anel, com música ao vivo pelo Coro e Orquestra Gulbenkian Depois da apresentação de 2001 – Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick, em 2015, a Gulbenkian Música propõe para o início deste novo ano o filme-concerto A Irmandade do Anel com a interpretação ao vivo, pelo Coro e Orquestra Gulbenkian, da banda sonora composta por Howard Shore. A Irmandade do Anel é o primeiro filme da trilogia de Peter Jackson baseada nos livros do escritor britânico J. R. Tolkien. O filme arrecadou, em 2002, quatro Óscares da Academia, entre os quais o Óscar para Melhor Banda Sonora Original, atribuído ao compositor canadiano Howard Shore, que voltou a receber o mesmo prémio com o terceiro filme da trilogia, O Regresso do Rei. Para ilustrar esta história repleta de aventuras, sentimentos e emoções, Howard Shore compôs uma banda sonora inspirada na música sinfónica e operática do final do século XIX, em compositores como Richard Strauss e Richard Wagner e na tradição das bandas sonoras dos filmes produzidos em Hollywood.
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Se a dificuldade de tecer música que interpele situações reais não é despicienda, aquilo que lhe era pedido em O Senhor dos Anéis era algo de colossal: criar música para um dos universos ficcionais mais complexos de sempre, com povos, línguas e culturas próprios, que quase obrigam a uma relação virgem com todos os elementos. A escolha de Howard Shore para o projeto cinematográfico que marcaria em definitivo a carreira de Peter Jackson resultou da admiração do realizador pela música que Shore compusera, em particular para a filmografia de David Cronenberg. A capacidade de acoplar ideias musicais de uma beleza arredia e misteriosa a filmes como Crash ou Naked Lunch convenceu Jackson de que Shore seria capaz de semelhante feito ao escrever para uma épica história do Bem contra o Mal. E a música de Shore é épica desde o primeiro segundo da narrativa cinematográfica que adapta o tour de force literário de J. R. Tolkien que, desde a publicação original em 1954, acumulou centenas de milhões de leitores.
A banda sonora completa dos três filmes é praticamente ininterrupta, com uma duração de cerca de 10 horas, e transmite uma atmosfera muito particular, acompanhando em todas as dimensões a narrativa do filme, seja ilustrando os eventos mais dramáticos ou revelando a subjetividade das personagens. Howard Shore compôs mais de 80 bandas sonoras originais para filmes, sendo um colaborador frequente de David Cronenberg, tendo composto todas as bandas sonoras dos filmes do realizador à exceção de uma. Compôs também a ópera The Fly, baseada na história do filme de Cronenberg de 1986, ou ainda Ruin and Memory, um concerto para piano encomendado para o pianista Lang Lang. A direção do Coro e Orquestra Gulbenkian, acompanhados pelo Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa, caberá ao maestro Ludwig Wicki, que tem participado em grande parte dos concertos de Howard Shore dedicados ao Senhor dos Anéis. O concerto contará ainda com a jovem e talentosa soprano britânica, Grace Davidson.